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Cotidiano e geologia em
José
Carlos Barreto de Santana
Doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP), desenvolve pesquisas sobre a história das ciências no Brasil entre os séculos XIX e XX. É autor do livro Ciência e arte: Euclides da Cunha e as ciências naturais, publicado pela HUCITEC em 2001. Resumo É proposta deste trabalho verificar aspectos do cotidiano do engenheiro/escritor Euclides da Cunha, que possam ajudar no entendimento do porque, dentro das Ciências Naturais do final do século XIX, a Geologia ganha uma forte significação em Os Sertões. Euclides da Cunha formou-se bacharel em Matemática, Ciências Físicas e Naturais e Engenheiro em 1891. Como engenheiro esteve incumbido de obras que implicavam numa interação com a Natureza, o que significava a aplicação de conhecimentos adquiridos enquanto estudante da Escola Militar, complementados pela leitura de naturalistas e cientistas. Estudando Geologia e Mineralogia com intenção de prestar concurso para a Escola Politécnica de São Paulo, escrevendo resenhas sobre trabalhos científicos, relacionando-se com engenheiros, geólogos e botânicos, Euclides da Cunha viveu um conjunto de atividades que o inseria no espaço de uma comunidade científica em formação, sem que isso significasse abdicar de participar da vida política e literária do Brasil no final do século XIX. Uma parte significativa de Os Sertões foi construída ao mesmo tempo em que reconstruía uma ponte, e assim como buscara nas rochas as bases para a sua obra de engenharia, foi também nas rochas que Euclides da Cunha buscou a representação para explicitar de que maneira via a formação do brasileiro.
[ABSTRACT]
This essay examines some aspects of the life of the engineer and writer Euclides da Cunha which are useful to understand why in the Natural Sciences of the end of 19th century Geology has a great meaning in Os Sertões (Rebellion in the Backlands). Euclides da Cunha held an academic degree in Mathematics, Physics, Natural Sciences and Engineering in 1891. As an engineer he was reponsible for works which implied in interaction with Nature. Such an interaction made him apply the knowledge he got as a student at Militar School which was complemented by the reading of naturalists and scientists. Studying Geology and Mineralogy with the intention of teaching at Escola Politécnica de São Paulo, writing reviews on scientific works, bringing into relation with engineers, geologists, botanists, Euclides da Cunha carried out a series of activities which inserted him into the space of a developing scientific community, although it did not mean that he had to stop his political and literary activities in the Brazilian society of the end of the 19th century. A relevant part of Os Sertões was written at the same time the author was building a bridge. So, in the same way he had on rocks his work of engineering it was also on them that he tried to show the way he saw the formation of Brazilian people.
Quem lê Os Sertões (1902) depara-se com uma estrutura em três partes (A terra, O homem e A luta), encadeados de tal maneira que a sua representação da natureza, em A terra, configura-se como uma antecipação do que vai ser encontrado nas partes seguintes. A natureza é uma fonte fértil para as criações imagéticas/metafóricas desenvolvidas por Euclides da Cunha (1866-1909), como por exemplo as associações entre a vegetação de Canudos e as cabeças cortadas dos sertanejos vencidos pela força desigual dos representantes de uma civilização litorânea que se embatia contra a “rocha viva da nossa raça” (Cunha, 1985:559) levantada de baixo para cima numa “anticlinal extraordinária” (Cunha, 1985:206) que se chamava Antonio Conselheiro2. É proposta deste trabalho verificar aspectos do cotidiano do engenheiro/escritor Euclides da Cunha, que possam ajudar no entendimento do porque, dentro das Ciências Naturais do final do século XIX, a Geologia ganha uma forte significação em Os Sertões3. Na sua trajetória de estudante de engenharia, Euclides da Cunha inicialmente prestou exames de matemática e desenho e chegou a freqüentar por menos de um ano a Escola Politécnica do Rio de Janeiro (1885) e, aparentemente por razões econômicas, optou por entrar para a Escola Militar da Praia Vermelha, em 1886, de onde seria expulso, devido ao incidente de sua insubordinação republicana diante do Ministro da Guerra do Império (nov./1888), e para onde retornaria em 19 de novembro de 1889, logo após a Proclamação da República, formando-se Bacharel em Matemática, Ciências Físicas e Naturais e Engenheiro (1891). Durante a interrupção de sua passagem pela Escola Militar, Euclides da Cunha foi para São Paulo, onde iniciou colaboração com o jornal A Província de S. Paulo (mais tarde O Estado de S. Paulo) e, disposto a retomar os seus estudos, voltou Euclides ao Rio no início de 1889. “De fato, entre março e maio de 1889 fez provas de Zoologia, de Botânica, de Mineralogia e de Física e começou a freqüentar o curso de engenharia civil” (Rabello, 1966:43) na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, mas não por muito tempo, pois logo se veria atraído pelos os acontecimentos políticos que resultariam na República. Da relação de disciplinas geológicas integrantes do Programa de Ensino da Escola Politécnica, listada por Figueirôa (1992: 96), pode-se inferir que Euclides da Cunha, expulso da Escola Militar da Praia Vermelha em 1898, quando cursava o 3º ano do curso superior, fez provas de Mineralogia e Geologia, disciplina dos cursos de Ciências Físicas e Naturais, Ciências Físicas e Matemáticas e Engenharia de Minas, que tinha como professor Oscar Nerval Gouvêa, autor da tese sobre As rochas plutônicas do Brasil, apresentada em 1880, durante concurso para catedrático da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, esta tese, até onde apurou Figueirôa (1992:97), foi a primeira em ciências geológicas defendida no Brasil. Após formar-se em Engenharia na Escola Militar da Praia Vermelha (1891), Euclides da Cunha estagiou na Estrada de Ferro Central do Brasil e, servindo na Diretoria de Obras Militares, integrou a Comissão Técnica Militar durante o episódio conhecido como Revolta da Armada, desenrolado fundamentalmente no Rio de Janeiro no ano de 1893. Com a Capital em estado de sítio, o Tenente Euclides da Cunha estava responsável pela construção de uma fortificação ao lado das Docas (Andrade, 1960:64) que funcionava como um dos pontos de defesa das forças leais ao Presidente Floriano Peixoto. Com o fim da Revolta da Armada, Euclides da Cunha viu-se envolvido em desentendimentos públicos ao se colocar contra um senador que defendia a repressão sumária dos que houvessem cometido crimes políticos e foi transferido, em 28 de março de 1894, para a cidade de Campanha-MG, por determinação de Floriano Peixoto. Olímpio de Souza Andrade , buscando vestígios do interesse de Euclides da Cunha pelas coisas da natureza, encontrou raízes no período que o mesmo passou na cidade de Campanha-MG, onde lhe teria sobrado tempo para os estudos, tendo nesta cidade recebido inúmeros livros do professor e jornalista Júlio Bueno, incluindo “Geologie, flora, faune et climats du Brésil - E. Liais, livro citado pelo menos três vezes em Os Sertões” (Andrade, 1960:72). Muito embora não pretenda por em dúvida a influência da obra de Emanuel Liais sobre Euclides da Cunha, entendo que esta associação feita por Andrade se encaixa numa tradição de relacionar o interesse científico a uma cultura livresca, desprezando a um plano secundário a própria atividade profissional do engenheiro encarregado de uma construção em condições onde se fazia necessária uma interação com a natureza, que suponho ter, no mínimo, uma importância tão considerável quanto as suas leituras nos momentos de sobra de tempo. Na cidade mineira Euclides da Cunha esteve inicialmente incumbido da adequação de um prédio da Santa Casa de Misericórdia para que o mesmo passasse a abrigar um Corpo de Cavalaria do Exército e o seu relatório de atividades incluiu um levantamento da região, com a finalidade de obter dados sobre os materiais disponíveis para os trabalhos, o que o levou a tecer considerações sobre a qualidade da argila encontrada na região concluindo que: “para fabricação de tijolos dificilmente poderá ser encontrada melhor argila do que a que aqui existe - e dificilmente se encontrarão tijolos piores do que os que aqui se fazem. (...) os tijolos feitos aqui tem entretanto a melhor e a mais própria das matérias primas numa argila que sem ser demasiado plástica (...) tem além disso uma porção de agregado de ferro suficiente para a ligação e conseqüente resistência do tijolo. Tratei essa argila pelos ácidos que pude dispor e raras vezes lobriguei a presença nociva de carbonato de cálcio (...)”(Cunha, 1894:4).
No que se refere às rochas da região, Euclides chama a atenção para a existência nas poucas pedreiras dali dos “melhores materiais de construção, consistindo exclusivamente em rochas feldspáticas, entre as quais com maior abundância encontra-se o melhor dos granitos - de grã finíssima, admirável uniformidade de coloração e grande peso específico, seguindo-se o gnaisse em menor quantidade, o sienito e as demais variedades do granito e do gnaisse como o leptinito e o pegmatito” (Cunha, 1894:5)
Embora considerando as suas descrições sem valor para o fim a que se destinava o relatório, entendia Euclides que as mesmas eram prova de “cuidadosa observação e insistente estudo que fiz sobre o terreno e as rochas da localidade”(Cunha, 1894:5). Referindo-se a algumas propriedades da União no município da Campanha, Euclides da Cunha chamava a atenção que (...) embora por carência absoluta de elementos para um estudo consciencioso do seu solo, não me fosse possível caracterizar com segurança a sua constituição geológica, e, apesar de indicarem as catas que a limitam, em parte, antigas jazidas de ouro, o que supõe um solo não pertencente a zona do gnaisse, tão característica da uberdade de qualquer região - somos levados a crer na excelência das terras que consideramos. Elas já tem sido cultivadas com vantagem - mais ainda quando isso não se desse - a cobiça que por elas tem sempre manifestado os proprietários das pequenas situações limítrofes, seria altamente significativa (Cunha, 1894:15-16).
Observe-se que os estudos que o engenheiro declara ter realizado possibilitou a classificação de cinco diferentes tipos de rochas da região e que apesar de referir-se à carência de elementos para caracterizar a constituição geológica tece considerações a respeito do tipo de solo, que descarta ser originário do gnaisse. Independente do acerto ou não da sua classificação, significa uma aplicação de conhecimentos não necessariamente aprofundados mas inicialmente obtidos quando em contato com matérias curriculares quando estudante da Escola Militar e que possam ser complementados por estudos ou leituras posteriores, o que incluiria a leitura de obras como a de E. Liais. Euclides da Cunha ficou em Campanha-MG até princípios de 1895, saiu de licença do Exército, e foi para São Paulo, onde passou a trabalhar como engenheiro civil. Em 10 de janeiro de 1895 já escreve de São Paulo para o sogro, General Solon, que se encontrava na Bahia consultando-o quanto à sua intenção de deixar a farda que já lhe ia pesada (Andrade, 1960:74) e, mesmo contra a decisão do general, que considerava a carreira militar a mais promissora do país, colocou-se em busca do contraponto de uma atividade fixa, que pudesse lhe assegurar uma razoável estabilidade econômica e tranqüilidade para o desenvolvimento de suas inquietações intelectuais. No período entre 1895 e 1896, em São Paulo, Euclides da Cunha consolidou a sua opção pela engenharia civil enquanto atividade profissional, mas a posição precária de engenheiro interino da Superintendência da Obras Públicas do Estado de São Paulo não representava a estabilidade almejada. Em meio a esta busca de uma atividade estável, trabalhando em caráter precário, Euclides da Cunha revela em carta de 22 de fevereiro de 1895 a João Luís (um dos amigos de Campanha), as suas preocupações quanto ao futuro e a crença na realização do seu "(...) grande sonho, a única aspiração constante que de há muito tenho: tirar, por concurso, uma cadeira na Escola de Engenharia daqui [SP]4. Logo que abrirem as inscrições avisar-te-ei - e fique já certo de que não dispensarei, absolutamente não dispensarei, a tua presença no dia em que tiver de defender a tese que apresentar, dizer-te isto é dizer-te que tenho estudado alguma coisa" (Cunha, 1966a, p. 604 - 605).
A pista para entender a qual cadeira aspirava Euclides da Cunha encontra-se numa outra carta ao mesmo amigo, datada de 23 de abril de 1896, quando se diz "absorvido pelo estudo da Mineralogia, vivendo numa áspera sociedade de pedras (....)" (Cunha, 1896). Das cadeiras existentes na Escola Politécnica a que melhor se ajustava ao estudo que absorvia Euclides da Cunha era a de "Mineralogia e Geologia. Jazidas de adubos químicos no Brasil" (Anuário da Escola Politécnica, 1900:88-96), que pelo seu próprio titulo e programa mostrava a imperiosa necessidade de que fossem aprofundados os conhecimentos em mineralogia de um pretendente a um concurso com esta finalidade. Reforçando este entendimento, a Escola Politécnica de São Paulo achava-se autorizada por ofício de 23 de fevereiro de 1896, do Secretário d’Estado dos Negócios do Interior, a abrir concurso para o preenchimento de vagas de lentes que incluía a 2ª seção da escola, onde se localizava a cadeira de "Mineralogia e Geologia. Jazidas de adubos químicos no Brasil" (Pujol, 1896). Além disto o Escola Politécnica fez publicar no órgão oficial do estado de Minas Gerais o edital do concurso, numa clara demonstração de interesse em atingir o público egresso da Escola de Minas de Ouro Preto, onde estavam sendo formados profissionais para atuarem nas áreas de geologia e engenharia de minas, o que significaria, na prática, que em fins do século XIX já se reconhecia o papel desta Escola enquanto local de formação de especialistas nestas áreas do conhecimento. Apesar de declarar-se estudando com afinco para o concurso, inquietações surgiram no animo de Euclides da Cunha que comunicou a João Luís na mesma correspondência de 23 de abril de 1896. Um dos motivos de inquietação era “a existência de terrível adversário, um dos primeiros geólogos do Brasil, discípulo e braço direito de Gorceix”. Este possível adversário seria Francisco de Paula Oliveira, aluno de geologia e mineralogia do professor Claude-Henri Gorceix na Escola de Minas de Ouro Preto e que trabalhou como geólogo na primeira equipe da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, a quem o Diretor da Politécnica, Antonio Francisco de Paula Souza, considerava "(...) pessoa que preencheria com toda proficiência a cadeira de mineralogia e geologia" (Atas da Congregação, 1896). Euclides da Cunha não se inscreveu para o concurso, que não se realizou, Francisco de Paula Oliveira não aceitou uma indicação para a regência interina da cadeira e a expectativa de que o professor de Mineralogia e Geologia fosse um especialista não se concretizou. Por indicação da Congregação da Escola a vaga foi preenchida pela nomeação do 1 tenente reformado da Armada Nacional Antonio de Barros Barreto (Relatório da Politécnica, 1896: 4), que não era um especialista no assunto, e, como Euclides da Cunha era um engenheiro reformado da carreira militar. Em paralelo com as suas atividades de engenheiro civil Euclides da Cunha mantinha estreita colaboração com o jornal O Estado de S. Paulo. No ano de 1897, antes que a Guerra de Canudos fosse objeto de suas apreciações pelas páginas do jornal, Euclides da Cunha escreveu duas resenhas sobre trabalhos científicos. O trabalho de Alberto Loefren, Distribuição dos vegetais no estado de São Paulo, publicado no XI Boletim da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, mereceu elogios de Euclides da Cunha em artigo de 04 de março que exaltou o esforço do autor em realizar um estudo sistemático da vegetação e faz menção à constituição geológica do estado para respaldar a sua análise (Cunha, 1966b). O segundo trabalho analisado foi o livro Estudos sobre Higiene, de Torquato Tapajós, que trata das condições sanitárias do Rio de Janeiro. O artigo de Euclides da Cunha não é favorável ao livro e é parcialmente baseado em aspectos geológicos dos terrenos do Rio de Janeiro, além de uma discussão sobre o clima e suas relações com a higiene, estendendo a crítica a autores outros que estabeleceram uma “lenda ‘científica’ de um lençol d’água subterrâneo (...) como principal fator de irrupção violenta das epidemias no Rio de Janeiro” (Cunha, 1966c:394). Quando os acontecimentos em Canudos são, pela primeira vez, tratados por Euclides da Cunha o resultado é o artigo “A Nossa Vendeia” (março de 1897), onde são largas as citações de viajantes naturalistas e cientistas. A descrição do meio físico se faz significativa para entender o revés sofrido pela Expedição comandada pelo Coronel Moreira Cesar no enfrentamento com os seguidores de Antonio Conselheiro, na medida em que “(...) pela ocorrência simultânea de quartizitos e gnaisse graníticos característicos, o solo daquelas paragens, arenoso e estéril, revestido sobretudo nas épocas de seca, de vegetação escassa e deprimida, é, talvez mais do que a horda dos fanatizados sequazes de Antonio Conselheiro, o mais sério inimigo das forças republicanas”. Relacionado com as características físicas se encontra o homem, os rudes sertanejos “identificados à própria aspereza do solo em que nasceram, educados numa rude escola de dificuldades e perigos (...) têm naturalmente toda a inconstância e toda a rudeza do meio em que se agitam” (Cunha, 1966d). Essa relação homem X natureza será desenvolvida, ampliada e marcante em Os Sertões. Para escrever os seus primeiros artigos sobre Canudos, Euclides da Cunha contou com a amizade do engenheiro baiano Teodoro Sampaio, da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, cuja influência nas suas leituras científicas foi registrada por autores como Capistrano de Abreu (1977), Gilberto Freyre (1944), Aroldo Azevedo (1950), Nelson Werneck Sodré (1966) e Olímpio de Souza Andrade (1960). Teodoro Sampaio percorrera os sertões da Bahia, desde o ano de 1878, como integrante da Comissão Milnors Roberts da qual também fez parte o Geólogo Orville Derby. O engenheiro baiano foi autor de trabalhos que incluíam desde temas relacionados à língua Tupi até assuntos geológicos. Gozava de respeito e livre trânsito junto a geólogos como Orville Derby e Jonh Casper Branner, para quem redigiu algumas “notas” sobre as rochas arqueanas na Bahia. Teodoro Sampaio forneceu ao seu amigo um mapa, então inédito, sobre a região de Canudos e trabalhos seus como “Notas sobre a geologia da região compreendida entre o rio São Francisco e a Serra Geral (do Espinhaço) nas imediações da cidade do Juazeiro”, “As rochas arqueanas na Bahia” e “ A respeito dos caracteres geológicos do território compreendido entre as cidades de Alagoinhas e a de Juazeiro pelo trajeto da linha férrea em construção”, publicado na Revista de Engenharia, em 1894, com comentários de Orville Derby. Além destas contribuições, Teodoro Sampaio foi o provável elemento de ligação de Euclides da Cunha com Orville Derby e Alberto Loefgren. Seria este trio que viria a propor o ingresso de Euclides da Cunha no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, primeira instituição à qual se filiou o autor de Os Sertões. Encarregado pelo jornal O Estado de S. Paulo de realizar a cobertura jornalística da guerra de Canudos, Euclides da Cunha viajou à Bahia como adido ao Estado Maior do Ministro da Guerra e os jornais de Salvador noticiaram que o engenheiro/jornalista vinha “incumbido de estudar as condições geológicas do terreno de Canudos e escrever um livro sobre a guerra que se desenrolava naquela localidade, o que significaria estudar a região sob o ponto de vista militar e científico” (Calazans, 1969). Partiu Euclides de Salvador com destino a Canudos em fins de agosto, descrevendo, no seu “Diário de uma Expedição” (Cunha,1966e), a geologia da região por onde passa a estrada de ferro que liga Salvador a Queimadas, notadamente no trecho até a cidade de Alagoinhas, e parecendo distinguir a transição entre “grandes camadas terciárias de grés [N.A. arenito] (...) em que tabuleiros amplos se desdobram a perder de vista, mal revestidos, às vezes, de uma vegetação torturada” e rochas “cretáceas subjacentes cuja decomposição determina a formação de um solo mais fértil”. O escritor ressaltou que a sua observação “(...) já de si mesmo resumida aos breves horizontes de imperfeitíssimo conhecimentos geológicos, fez-se em condições anormais na passagem rápida de um trem”. Essa evidente preocupação com as características dos seus conhecimentos geológicos pode ser encontrada, também, em outros trechos do seu “Diário”, a exemplo de visita feita ao Rio Itapicuru de “margens ridentes e pitorescas em cujo seio afloram ilhas de belíssimos gneisses (...) [onde] recolhi um pouco de areia claríssima, destinada ao exame futuro de pessoa mais competente” (Cunha, 1966e:535). As anotações sobre a geologia da região prosseguem no “Diário” e são encontradas também na sua “Caderneta de Campo” (Cunha, 1975) onde meticulosos croquis ilustram as suas observações sobre o relevo e onde, pela primeira vez, aparece o roteiro de um estudo a ser realizado, que resultaria em “Os Sertões”. O jornalista de “A Notícia”-RJ, Alfredo Silva, descrevendo um passeio nos arredores de Monte Santo, chamava a atenção para o comportamento de Euclides da Cunha que preocupava-se em verificar ser granito ou quartzito as rochas de uma pedreira e que obrigava os companheiros de passeio a viajarem quatro horas para um percurso de légua e meia (nove quilômetros), parando “(...) para examinar a flora e a fauna e que não podia resistir a grandes explicações científicas, todas as vezes em que encontrava uma pedra, uma flor, um fruto ou um pássaro” (Silva, 1977:427). O passeio parece ter garantido ao jornalista de “A Notícia” pelo menos os elementos para uma reportagem onde ele descreve o terreno do sertão baiano em sua litologia, referindo-se até à existência de fosseis que garantiriam para a região uma anterior ocupação pelo mar. Alfredo silva agradece a Euclides da Cunha, a quem deveria o seu “cabedal de geologia”. Foi em Monte Santo que Euclides da Cunha entrou pela primeira vez em contato direto com as caatingas, “satisfazendo uma curiosidade ardente, longamente alimentada (...), [deparando-se com] um quadro absolutamente novo, uma flora inteiramente estranha e impressionadora, capaz de assombrar ao mais experimentado botânico”. “De um, sei eu [dizia Euclides], que ante ela faria prodígios. Eu porém, perdi-me logo, perdi-me desastrosamente no meio da multiplicidade das espécies (...)” (Cunha, 1966e:535).
Estes trechos retirados do “Diário de uma Expedição”, pinçados não por acaso, permitem-me colocar a seguinte interrogação: quem seriam estas “pessoas mais competentes” que iriam analisar amostras recolhidas e quem seria o botânico que faria prodígios diante daquela estranha e impressionadora caatinga do sertão baiano? Certamente Euclides da Cunha estava se referindo ao amigos da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, dirigida por Orville Derby e local onde trabalhavam Teodoro Sampaio e Alberto Loefgren, este último provavelmente o botânico que Euclides imaginava ser capaz de fazer prodígios diante da vegetação sertaneja. Ao retornar de Canudos, novamente os jornais de Salvador fizeram referências aos seus estudos sobre as condições geológicas e das etnias que serviriam de base para um livro a ser escrito por solicitação do jornal “O Estado de S. Paulo”. Parece-me interessante observar que os elementos até aqui levantados mostram um Euclides da Cunha fortemente envolvido com a comunidade científica da sua época e que, ao se apresentar nas redações dos jornais baianos como alguém capacitado para realizar levantamento geológico da região de Canudos, o próprio Euclides identificava-se como um integrante desta comunidade. Retornando para São Paulo Euclides da Cunha começa a escrever o seu livro e encontra em Teodoro Sampaio um interlocutor para as questões relacionadas à natureza dos sertões baianos, relevo, clima e geologia, que eles repassavam através, principalmente, dos trabalhos de Orville Derby e Frederick Hartt (Sampaio, 1919). No início de 1898 Euclides da Cunha viu-se envolvido com a reconstrução de uma ponte metálica que desabara na cidade de São José do Rio Pardo, fato que ganharia importância na elaboração do seu livro, vez que se fixou naquela cidade por aproximadamente 3 anos e encontrou ali um ambiente favorável para continuidade dos seus estudos. Encarregado das obras de reconstrução da ponte metálica, Euclides da Cunha decidiu desmontar toda a estrutura que ruíra e realizou sondagens no leito do rio para redefinir o local mais adequado para a sua localização. De posse dos dados elaborou um mapa da área e relocou a ponte a montante da posição anterior, baseando-se na ocorrência ali de rocha gnaissica que servisse como elemento seguro da fundação da obra. Durante a sua permanência em São José do Rio Pardo, Euclides da Cunha recebeu, pelo menos uma vez, a visita de Orville Derby, que foi assim notíciada no jornal “O Rio Pardo”: “Dr. Orville Derby Vindo da Capital de São Paulo esteve nesta cidade, em dias da semana passada, de visita ao Dr. Euclides da Cunha, o notável homem de ciências Dr. Orville Derby, chefe da Comissão Geográfica e Geológica do Estado” (O Rio Pardo, 13/07/1899).
Considerando-se autores como Rabelo (1966) e Andrade (1960) e o testemunho de Teodoro Sampaio (1919), que mostram um Euclides da Cunha a ler, para os amigos, trechos do seu livro à medida que o ia escrevendo, acredito que isto tenha também tenha ocorrido quando da presença em São José do Rio Pardo de Orville Derby. Durante esta visita o geólogo chegou a indicar ao amigo a leitura de um livro de história de provável autoria de Capistrano de Abreu, conforme correspondência de Euclides da Cunha ao Dr. Pedro de Aquino citada por Olímpio de Souza Andrade na sua “História e Interpretação de ‘Os Sertões’” (Andrade, 1960:174). O lançamento d’Os Sertões teve uma acolhida de público e de crítica que o transformaram num dos grandes sucessos literários do ano de 1902, juntamente com o livro Canaã, de Graça Aranha. As crítica foram fundamentalmente elogiosas, no que pese algumas restrições feitas por José Veríssimo (um dos principais críticos literários da época) ao que ele considerou exagero no emprego de termos técnicos. Dos artigos publicados quando do lançamento de “Os Sertões”, dois foram objetos de considerações de Euclides da Cunha nas suas Notas à 2a edição, que se constituem em oito blocos de respostas às críticas feitas por Moreira Guimarães, ex-colega de Euclides da Cunha na Escola Militar da Praia Vermelha, (publicada inicialmente no jornal Correio da Manhã de 03 de fevereiro de 1903) e José de Campos Novaes (publicada pela revista do Centro de Ciências Letras e Artes de Campinas, em 31 de janeiro de 1903). Das respostas à José de Campos Novaes, uma diz respeito à geologia, duas à botânica (área a que Novaes destinava maior atenção nos seus estudos) e uma ao emprego de termos/palavras. Das respostas a Guimarães, uma é sobre "as leis gerais do clima”, uma é sobre a "unidade de raça" e a "rocha viva" (o sertanejo), uma sobre a sociedade sertaneja e a "rocha viva" e a última é sobre "mercenários inconscientes". Cotejando os artigos e as respostas de Euclides da Cunha percebe-se o seu ressentimento com o emprego que Novaes faz da expressão de "nefelibatismo" para se referir a um “modelo de ciência popular, que sendo por vezes destituída de precisão, afigura-se-nos alguma coisa de superior pelo prestígio indiscutível da forma repleta de imagens que registram, aliás, impressões reais” (Novaes, 1903:47). Por três vezes Euclides da Cunha se refere à expressão, em duas delas chega a ser agressivo falando em "sensitivas do nosso meio científico" e em "prestadios amadores estremecendo por todas as corolas da botânica apisoados do meu nefelibatismo científico (eterno labéu!)" (Cunha, 1985: 581-2). Para refutar as críticas Euclides da Cunha cita uma certa geologia de Contejan sobre a erosão das rochas no que trata dos ataques físicos e químicos provocados pelas águas das chuvas. Também cita a Geologie, flora, faune et climats du Brésil de Emmanuel Liais e ironiza o crítico considerando "extraordinária geologia” a apresentada por José de Campos Novaes. Mas sem dúvidas é a resposta de Euclides da Cunha a Moreira Guimarães para as questões envolvendo a “unidade da raça” e a “rocha viva” que enseja a utilização da geologia numa construção metafórica envolvendo o granito: “De fato, a nossa formação como a do granito surge de três elementos principais5. Entretanto quem ascende por um cerro granítico encontra os mais diversos elementos: aqui a argila pura, do feldspato decomposto, variamente colorida; além a mica fracionada, rebrilhando escassamente sobre o chão; adiante a arena friável, do quartzo triturado; mais longe o bloco moutonné, de aparência errática; e por toda a banda a mistura desses mesmos elementos com a adição de outros, adventícios, formando o incaracterístico solo arável, altamente complexo. Ao fundo, porém, removida a camada superficial, esta o núcleo compacto e rijo da pedra. Os elementos esparsos, em cima, nas mais diversas misturas, porque o solo exposto guarda até os materiais estranhos trazidos pelos ventos, ali estão, embaixo, fixos numa dosagem segura, e resistentes, e íntegros. Assim à medida que aprofunda o observador se aproxima da matriz de todo definida do local. Ora o nosso caso é idêntico - desde que sigamos das cidades do litoral para os vilarejos do sertão. A princípio uma dispersão estonteadora de atributos, que vão de todas as nuances da cor a todos os aspectos do caráter: Não há distinguir-se o brasileiro no intricado misto de brancos, negros e mulatos de todos os sangues e de todos os matizes. Estamos à superfície da nossa gens, ou melhor, seguindo à letra a comparação de há pouco, calcamos o húmus indefinido da nossa raça. Mas entranhando-nos na terra vemos os primeiros grupos fixos - o caipira no sul, e o tabaréu, ao norte - onde já se tornam raros o branco, o negro e o índio puros. A mestiçagem generalizada produz, entretanto, ainda todas as variedades das dosagens díspares dos cruzamentos. Mas à medida que prosseguimos estas últimas se atenuam. Vai-se notando maior uniformidade de caracteres físicos e morais. Por fim a rocha viva - o sertanejo” (Cunha, 1985:580-581).
Lendo naturalistas, realizando levantamento da natureza por conta das suas atividades de engenheiro, estudando mineralogia e geologia visando um possível concurso para lente da Escola Politécnica de São Paulo, citando autores consagrados e escrevendo resenhas críticas sobre livros de ciência, apresentando-se na Bahia como alguém capacitado a realizar um levantamento da geologia da região de Canudos, amigo de Teodoro Sampaio, Orville Derby e Alberto Loefgren, que o indicaram para sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, onde tomou posse apresentando um trabalho sobre a Climatologia dos Sertões da Bahia, Euclides da Cunha viveu um conjunto de atividades que o inseria no espaço de uma comunidade científica em formação, sem que isso significasse abdicar de participar da vida política e literária do Brasil no final do século XIX. Conhecendo um conjunto significativo das publicações na àrea das ciências naturais e sentindo-se à vontade nas suas relações com membros da comunidade científica, Euclides da Cunha reagiu fortemente às críticas que se referiam ao conteúdo científico do seu livro, em alguns casos foi agressivo, referindo-se a sensitivas do nosso meio científico e a prestadios amadores, ao se ver diante de insinuações a respeito de um suposto nefelibatismo científico. Uma parte significativa do livro foi construída ao mesmo tempo em que trabalhava na reconstrução da ponte metálica da cidade de São José do Rio Pardo, assim como buscara nas rochas a base para a construção da ponte, foi também nas rochas que Euclides buscou a representação para explicitar de que maneira via a constituição da nossa formação.
BIBLIOGRAFIA CITADA
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V. 2, p. 11-55. 1 Trabalho publicado revista Cadernos do IG – UNICAMP, v. 5, n.2, p. 140-157, 1995. 2 As questões relativas às construções imagéticas/metafóricas, inclusive as de cunho geológico, e o entendimento de que “A Terra” constitui-se numa espécie de “indice narrativo” dos capítulos seguintes de “Os Sertões” foram construidos a partir das “notas de aula” da disciplina “Texto e História em Os Sertões de Euclides da Cunha” ministrada no segundo semestre de 1993 pelo Prof. Roberto Ventura na Pós-Graduação da FFLCH/USP. 3 Sobre a presença da Geologia em Os Sertões, ver: SANTANA, J.C.B. de. “Os Sertões: Literature connected to Geology in the end of 19th Century in Brazil. In: FIGUEIRÔA, S.F. de M. & LOPES, M.M.. Geological Sciences in Latin America: Scientific relations and exchanges. Campinas, UNICAMP/IG, 1994, p. 289-298. 4 Sobre as relações entre Euclides da Cunha e a Escola Politécnica de São Paulo, ver: SANTANA, José Carlos Barreto de. Euclides da Cunha e a Escola Politécnica de São Paulo: a história de um desencontro ou um desencontro que não entrou na história. In: Revista do Instituto de Estudos Avançados. São Paulo, USP/IEA (no prelo). 5 Os três elementos da nossa formação, a que se refere Euclides da Cunha encontrariam uma relação direta com os elementos do granito na seguinte ordem de correspondência: indígena ≡ feldspato; africanos ≡ mica; europeu ≡ quartzo.
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