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GEOLOGIA E METÁFORAS GEOLÓGICAS EM OS SERTÕES GEOLOGY AND GEOLOGICAL METAPHOR IN OS SERTÕES José Carlos Barreto
de Santana Doutor em História Social / História das Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), desenvolve pesquisas sobre a história das ciências no Brasil entre os séculos XIX e XX. É autor do livro Ciência e arte: Euclides da Cunha e as ciências naturais, publicado pela HUCITEC (2001). Este trabalho é uma versão com pequenas modificações do trabalho de mesmo título publicado em História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, FIOCRUZ/Casa de Oswaldo Cruz, v. V, suplemento, p. 117-131, 1997. RESUMO Neste trabalho é feita uma interpretação da construção do conhecimento geológico do principal livro de Euclides da Cunha. Visando caracterizar este conhecimento são buscadas em cadernetas de anotações, reportagens e artigos (de e sobre) Euclides da Cunha e no próprio livro, as evidências que possam nortear o entendimento de porque o conteúdo geológico ganha tão forte significação em Os sertões, a ponto de constituir-se em elemento para construções metafóricas em momentos importantes da sua narrativa. Partindo
dos escritos de Euclides da Cunha, relacionados à Guerra de Canudos,
mas anteriores ao livro, busco uma interpretação sobre a maneira
como se processava o conhecimento do engenheiro nas suas mediações
com autores e trabalhos das ciências naturais e mais especificamente geológicas,
o que significa, em certos momentos, uma comparação textual de
Os sertões com livros e artigos, cujas evidências apontem
a possibilidade de terem servido de fonte para o escritor. PALAVRAS-CHAVE: Os sertões, Euclides da Cunha, história das ciências, metáforas geológicas, conhecimento geológico.
ABSTRACTS In this paper an interpretation of the building of the geological knowledge of the main book by Euclides da Cunha has been done. With the purpose to characterize this knowledge, the evidences are searched in notebooks, reports and articles (by and about) Euclides da Cunha and in the book itself, those evidences may guide the understanding of why the geological content has such a remarkable meaning in Os sertões that even constitute an element for metaphorical constructions in important moments of its narrative. From
Euclides da Cunha’s writing on Guerra de Canudos, previous to the book,
I seek for an interpretation about the way the engineer’s knowledge was
processed in his mediations with authors and Natural Science works and more
specifically the Geological Science, what means, sometimes, a text comparison
between Os sertões and books and articles, whose evidences point
at a possibility of having served as a source for the writer KEYWORDS: Os sertões, Euclides da Cunha, History of Sciences, geological metaphors, geological knowledge. “A nossa Vendéia”, o “Diário de uma expedição” e a Caderneta de campo: fontes primárias de Os sertões
Antes de escrever Os sertões, Euclides da Cunha tratou, pela primeira vez, da Guerra de Canudos no artigo "A nossa Vendéia", publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo em 14 de março de 1897. Motivara o artigo o revés sofrido pela Expedição comandada pelo Coronel Moreira César, no enfrentamento com os seguidores de Antônio Conselheiro. Sendo um artigo para tratar da guerra que se desenrolava no interior da Bahia, o artigo surpreende pela abordagem, onde o autor se demora a tratar de aspectos do meio físico da região, vista como definidora do homem que ali vivia e combatia, prefigurando a orientação determinista que seria adotada em Os sertões. A natureza já aparece antropomorfizada, como partícipe da própria luta e, pelas características de suas rochas, solo e vegetais, é, mais que os sertanejos, “o mais sério inimigo das forças republicanas”. O homem local reflete as características físicas da natureza e, sendo identificados à própria aspereza do solo em que nasceram, educados numa rude escola de dificuldades e perigos, têm, naturalmente, “toda a inconstância e toda a rudeza do meio em que se agitam" (Cunha, 1897/1966a, p.575-578). Retornando ao assunto em novo artigo com o mesmo título (17 de julho de 1897), novamente reaparece a apresentação detalhada do meio ambiente, que oscila entre os extremos da maravilhosa exuberância, durante as quadras chuvosas e benéficas, e da completa esterilidade, correspondente aos longos intervalos das secas. A natureza ainda tem o papel de proteger o sertanejo durante a luta, erguendo trincheiras na movimentação irregular do solo e facilitando-lhe a fuga no meio de uma vegetação que se torna impenetrável aos que lhe são estranhos. A própria inferioridade dos sertanejos em armamentos é compensada pelo fornecimento natural do salitre para a composição da pólvora e dos seixos rolados de quartzo, que “são depósitos inexauríveis de balas” (Cunha, 1897/1966a, p.578-582). Quando aconteceu o desastre da Expedição Moreira César, Euclides da Cunha participou de uma conversa na casa de Teodoro Sampaio sobre a questão, e teria levado deste algumas notas sobre as terras do sertão baiano, além de pedir autorização para fazer uma cópia de um mapa, ainda inédito na parte referente a Canudos, que Teodoro Sampaio organizara (Sampaio, 1919). Mapa e notas devem ter servido de base para os seus primeiros escritos sobre o sertão da Bahia. Todos os grandes jornais da época mandaram enviados especiais para Canudos, e os dois artigos publicados sobre a luta valeram a Euclides da Cunha o convite de Júlio Mesquita, dono de O Estado de S. Paulo, para fazer a cobertura da guerra como correspondente do jornal paulista. Euclides da Cunha chegou à Bahia em 7 de agosto de 1897 e, durante a sua permanência na capital do Estado, manteve contatos e esteve presente nas redações dos órgãos da imprensa local, que o receberam com destaque. Os jornais do dia 8 de agosto noticiaram que o engenheiro/jornalista vinha incumbido de estudar “as condições geológicas do terreno de Canudos” e escrever um livro sobre a guerra que se desenrolava naquela localidade, o que significaria “estudar a região sob o ponto de vista militar e científico” (Calasans, 1969, p.48). Partiu Euclides da Cunha de Salvador com destino a Canudos em fins de agosto, descrevendo, no seu Diário de uma Expedição1 (Cunha, 1897/1966b), a geologia da região por onde passa a estrada de ferro que liga Salvador a Queimadas, notadamente no trecho até a cidade de Alagoinhas, e parecendo distinguir a transição entre formações geológicas, o escritor ressaltou que a sua observação “(...) já de si mesmo resumida aos breves horizontes de imperfeitíssimos conhecimentos geológicos, fez-se em condições anormais na passagem rápida de um trem”. Essa evidente preocupação com as características dos seus conhecimentos geológicos pode ser encontrada, também, em outros trechos do seu Diário, a exemplo da visita feita ao Rio Itapicuru de onde ele recolheu amostra de areia, que pretendia fosse examinada por “pessoa mais competente” (Cunha, 1897/1966b, p.535). As anotações sobre a geologia da região prosseguem no Diário e são encontradas também na sua Caderneta de Campo2 (Cunha, 1975) onde meticulosos croquis ilustram as suas observações sobre o relevo e onde, pela primeira vez, aparece o roteiro de um estudo a ser realizado, que resultaria em Os sertões. Foi na estrada entre Queimadas e Monte Santo que Euclides da Cunha entrou pela primeira vez em contato direto com as caatingas, que ele considerou capazes de assombrar ao mais experimentado botânico: “De um, sei eu [dizia Euclides], que ante ela faria prodígios. Eu porém, perdi-me logo, perdi-me desastrosamente no meio da multiplicidade das espécies (...)” (Cunha, 1897/1966b, p.531). Esses trechos retirados do Diário de uma Expedição e da Caderneta de Campo, pinçados não por acaso, permitem colocar a seguinte interrogação: quem seriam essas “pessoas mais competentes” que iriam analisar amostras recolhidas e quem seria o botânico que faria prodígios diante daquela “estranha e impressionadora” caatinga do sertão baiano? Certamente Euclides da Cunha estava se referindo aos seus amigos da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, dirigida por Orville Derby e local onde trabalhava Alberto Loefgren3, este último provavelmente o botânico que Euclides imaginava ser capaz de “fazer prodígios” diante da vegetação sertaneja. Derby, Loefgren e Teodoro Sampaio haviam indicado o nome de Euclides da Cunha para sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo antes da viagem para a Bahia. Parece-me interessante observar que os elementos até aqui levantados mostram um Euclides da Cunha envolvido com pessoas da comunidade científica da sua época e que, ao se apresentar nas redações dos jornais baianos como alguém capacitado para realizar levantamento geológico da região de Canudos, o próprio Euclides identificava-se como um integrante dessa comunidade. Um outro aspecto significativo diz respeito ao conhecimento que Euclides da Cunha já demonstrava ter sobre a região. Conhecimento mediado pelas leituras feitas ainda em São Paulo ou já na Bahia, e que permitiram ao engenheiro realizar a distinção entre diferentes camadas geológicas durante uma viagem de trem, num trecho cujas informações poderiam ser obtidas através de consulta ao mapa fornecido por Teodoro Sampaio, ao artigo “A bacia cretácea da Bahia de todos os Santos” (1878), de Orville Derby ou ao livro Geology and Physical Geography of Brazil (1870), de Frederick Hartt.
“A Terra” Quem lê Os sertões depara-se com uma estrutura em três partes (“A terra”, “O homem” e “A luta”), encadeadas de tal maneira que a sua representação da natureza, em “A terra”, configura-se como uma antecipação do que vai ser encontrado nas partes seguintes. A primeira parte do livro, “A terra”, é uma narrativa da natureza, subdividida em cinco capítulos nos quais são abordados a geologia, o relevo, o clima e a vegetação, constituindo a base em que o autor se apoia para compreender a ação do meio na formação das etnias e sua influência na gênese das personagens típicas. Antecedendo o texto encontra-se um encarte contendo um mapa do Estado da Bahia, intitulado “Esboço Geológico”, com autoria atribuída a autores diversos, correspondendo a uma síntese feita por Euclides da Cunha a partir de informações daqueles4 (Cunha, 1902/1985:89). Ao optar pelo mapa como elemento de recepção ao leitor, antes de iniciar o texto de Os sertões, Euclides da Cunha nós dá a conhecer aqueles que serão os seus interlocutores ao longo do livro: os viajantes naturalistas e cientistas, apresentados como autores do mapa. O que vamos encontrar em seguida é um imenso diálogo a muitas vozes, mediado pelo narrador. A apresentação destes viajantes naturalistas e cientistas, e mais outros que aparecerão ao longo do texto; outros três mapas, com ou sem atribuição de autoria; um desenho de trecho das caatingas e três fotografias, encontram-se distribuídos em Os sertões, e se encaixam no panorama de “minuciosos inventários de estudiosos, cheio de pranchas e mapas (...) interlocutores preferenciais de uma prosa que se deseja capaz de definir o próprio país, inventariar suas paisagens e populações, mapeá-lo, enfim”, a que se refere Flora Sussekind (1980:60) ao investigar a constituição de um narrador de ficção na prosa brasileira em O Brasil não é longe daqui. Para Roberto Ventura (1995:610) o diálogo de Euclides da Cunha com o cientista ou viajante naturalista seria ainda evidenciado pelo predomínio do “ponto de vista impessoal do viajante em movimento, que dá expressão artística ou científica às suas impressões”, quer se trate dos ensaios sobre a Amazônia ou do relato dos acontecimentos da guerra de Canudos. “Ponto de vista impessoal do viajante em movimento, que dá a expressão artística ou científica às suas impressões”. Esta parece ser a intencionalidade presente em Os sertões já desde as primeiras linhas de “A terra”, quando Euclides da Cunha descreve o que ele chama de “planalto central do Brasil”. Ao eleger o que seria para ele uma grande unidade do relevo do país, o narrador necessita utilizar uma escala muito reduzida, como faria um geólogo, por exemplo, na qual só os grandes traços se farão presentes, e à medida em que o observador se aproxima do objeto em estudo, vai verificando uma mudança de escala. O relevo começa a ser percebido nas suas variações e nas suas relações com a orla marítima, e o narrador introduz novos elementos, como a bacia do São Francisco. Serras menores e formações geológicas começam a se individualizar. Depois, ainda num movimento descendente, com a aproximação variando a escala, já são os rios que aparecem, as povoações também, até que, saindo do sul, “o observador que seguindo este itinerário deixa as paragens em que se revezam, em contrastes belíssimos, a amplitude dos gerais e o fastígio das montanhas, ao atingir aquele ponto estaca surpreendido... Está sobre um socalco do maciço continental, ao norte” (Cunha, 1902/1985, p.96). E novos elementos vão surgindo, traços menores são visíveis nesta nova escala: pequenos rios aparecem, a vegetação finalmente pode ser percebida e o observador afinal avista os habitantes daquelas paragens. Nesta viagem fantástica, do sul ao norte, de alto a baixo, Euclides da Cunha realiza algumas das suas generalizações, tentando fundir, em poucas páginas, o conhecimento que vinha sendo construído num largo tempo pelos viajantes naturalistas e cientistas. O roteiro percorrido é o mesmo por onde transitaram alguns, como Spix, Martius e Gardner, onde se fixaram outros, como Eschwege e Lund, e ainda o espaço onde se verificaram as atividades, por exemplo, da Comissão Geológica do Império, da Escola de Minas de Ouro Preto, das Comissões de Exploração do Rio São Francisco, da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo e da Comissão de Exploração do Planalto Central. As generalizações indicam que o diálogo de Euclides da Cunha se faz com atores e tradições diferentes, o que significa dizer que, neste caso, o autor não se permitiu uma “linha reta”, onde o seu texto possa ser imediatamente cotejado com o de um outro narrador. Vale então o alerta de Leopoldo Bernucci para a necessidade de perseverança ao ler Os Sertões, “quando esta leitura significa um duro e muitas vezes frustado exercício de exegese e hermenêutica”, sem o qual se estará fadado a comentar questões periféricas sem poder chegar aos aspectos centrais do texto, lembrando ainda que isto se aplica para as relações textuais que se dão entre Os Sertões e as demais disciplinas que com grande freqüência contribuem para o seu discurso intertextual: história, literatura, geologia, geografia, antropologia e ciências sociais (Bernucci, 1995, p.52-53). Alguns trabalhos de Orville Derby, como a “Contribuição para o estudo da geologia do vale do rio São Francisco” (1879), “Os picos altos do Brasil” (1889 e 1890), e os capítulos escritos por Derby para A Geografia Física do Brasil de J.E. Wappaeus (1884) (IV -“Aspectos físicos, montanhas e chapadões” e V - Estrutura geológica e minerais”), são as principais fontes de Euclides da Cunha na elaboração das páginas iniciais de Os sertões. As “possantes massas gnaíssegraníticas” que surgiriam primeiro, a partir do extremo sul, no “grande maciço continental”, “os extensos chapadões cujas urdidura de camadas horizontais de grés argiloso, intercaladas de emersões calcárias, ou diques de rochas eruptivas básicas lhe explica a exuberância sem par e as áreas complanadas e vastas”, as descrições das serras da Mantiqueira e do Espinhaço, ou dos tabuleiros onde predominam os lençóis de arenito que vão se associar ao calcário, até que “reponta a região diamantina, na Bahia, revivendo inteiramente a de Minas” (Cunha: 1902/1985, p.92-95), encontram seus correlatos nos trabalhos de Derby (1879, p.115; 1884, p.41-51 e 1889, p.132). No entanto, Euclides da Cunha não segue a classificação proposta por Orville Derby para o planalto brasileiro e escreve que o “planalto central do Brasil desce, nos litorais do Sul, em escarpas inteiriças, altas e abruptas” (Cunha, 1902/1985, p.91). Euclides da Cunha chamava de planalto central o que era o planalto brasileiro na classificação de Derby (1884). Para entender esta opção de Euclides da Cunha é preciso retornar antes ao texto de Flora Sussekind, mais especificamente ao momento em que, analisando o diálogo entre o narrador de ficção e os naturalistas viajantes, a autora fala da necessidade de se “fundar uma geografia e uma paisagem singulares e descrever acidentes, cenários e tipos peculiares” a partir da cartografia e da “ciência da viagem” (Sussekind, 1990, p.:61). Mas, na elaboração euclidiana, este diálogo não acontece num plano único pois, conforme lembra Lourival Holanda, “o grande lance da construção do discurso euclidiano está no modo de dar dupla direção ao discurso: 1o - há o nível corrente ao relato, onde tudo parece circular à superfície, no sentido da evidência do texto testemunhal; 2o - há outro nível, eixado na habilidade lingüística para velar e revelar sentidos insuspeitados através das conexões das imagens” (Holanda, 1992, p.8). Assim, acredito que existe nas primeiras páginas de Os sertões a intenção de se fundar uma geografia e uma paisagem, baseadas inicialmente no diálogo com os textos preexistentes, que ganham um caráter de testemunho do que era conhecido. Mas esta geografia e paisagem guardam em si uma estreita correspondência com o que será encontrado ao longo do livro, ainda que seja necessário, para isto, criar um conceito que revela “sentidos insuspeitados”. Não é por acaso que Euclides da Cunha inicia o seu texto com a descrição de uma região que é conhecida e estudada pela ciência, com as suas terras propícias á vida, e que “estaca surpreendida” diante de um hiato, excepcional e selvagem. A natureza prefigura então o embate entre o poder central e os sertanejos. E, assim como não caberia se falar que o Brasil lutava contra Canudos, não poderia ser outro que não o central, o planalto que descamba sobre a Terra ignota, por mais que isto viesse a soar como um “erro geográfico”. Uma das mais arrojadas generalizações de Euclides da Cunha foi construída em torno da imagem do observador que, deparando com a paragem impressionante do sertão, “tem a impressão persistente de calcar o fundo récem-sublevado de um mar extinto, tendo ainda estereotipada naquelas camadas rígidas a agitação das ondas e das voragens...”. (Cunha, 1902/1985, p.103-104). A “sugestão empolgante”, que contemplava um vasto oceano cretáceo-terciário cobrindo grande parte dos estados do norte, foi baseada inicialmente nos capítulos V e VI da primeira parte do livro de Emmanuel Liais, Climats, geologie, faune et geographie botanique du Brésil (1872). Liais considerava que entre as idades secundária (Era Mesozóica) e terciária (Era Cenozóica) um rebaixamento do território brasileiro permitiu o depósito de camadas terciárias em regiões que atualmente constituem o planalto brasileiro. Para reforçar as suas opiniões, Liais inclui, na descrição de tal evento, referências a evidências levantadas por Hartt, Agassiz, Gardner, Humboldt e outros investigadores da América do Sul e Central. Frederick Hartt, antes de Liais, admitia que durante o terciário o planalto do Brasil esteve submetido a uma submersão de extensão continental e suas idéias a respeito apareceram no capítulo XIII do livro A journey in Brazil (Agassiz, 1868), e no livro Geology and Geography Physical of Brazil (Hartt, 1870). No trabalho “Recent explorations in the valley of the Amazonas” publicado na revista do American Geographical Society of New York (1872), Hartt estabeleceu uma hipótese mais geral sobre a gênese do continente americano e parte dela foi transcrita por Orville Derby no seu trabalho “Contribuições para a geologia da região do Baixo Amazonas”, publicado em 1877 nos Arquivos do Museu Nacional. Frederick Hartt descreveu assim uma parte dos eventos geológicos no continente sul americano, entre as Eras Mesozóica e Cenozóica: “o vale do Amazonas, ao princípio, apareceu, como um largo canal entre duas ilhas ou grupos de ilhas, dos quais uma constituiu a base e o núcleo do planalto brasileiro, e a outra ao norte, do planalto das Guianas. Estas ilhas apareceram no princípio da idade siluriana ou pouco depois dele. Naquela época os Andes não existiam ainda” (Hartt, citado por Derby, 1977, p.83). Este trecho aparece em Os sertões com a seguinte redação: “Não existiam os Andes, e o Amazonas, largo canal entre as altiplanuras das Guianas e as do continente, separava-as, ilhadas. Para as bandas do sul o maciço de Goiás - o mais antigo do mundo - segundo a bela dedução de Gerber, o de Minas e parte do planalto paulista, onde fulgurava, em plena atividade, o vulcão de Caldas, constituiam o núcleo do continente futuro...” (Cunha, 1902/1985, p.104). Euclides da Cunha utilizou esta hipótese para tratar do movimento mais geral do continente com o pensamento voltado para uma “corrente impetuosa” que, num longo embate, “modelava aquele recanto da Bahia até que ele emergisse de todo, seguindo o movimento geral das terras, feito informe amontoado de montanhas derruídas”. De uma forma geral é o retorno a um esquema básico da narrativa euclidiana: forças que se embatem no mesmo “conflito secular” que já se encontra desde a primeira página de Os sertões, e a geologia aparece como que dotada de vontade e sentimentos e se presta com perfeição a esta narrativa de movimento, com suas camadas que se deprimem e se elevam, com suas forças capazes de rasgar as formações rochosas e com massas magmáticas que extravassam do interior desconhecido. Mais uma vez estamos diante de uma representação da natureza em conflito, que prefigura o embate secular entre o homem e o meio e ainda o combate entre o litoral e o sertão ou entre o soldado e o jagunço. Mas existe um aspecto que merece atenção na construção da narrativa euclidiana e que envolve a maneira pela qual ele dialogava com os dados fornecidos pela ciência, selecionando as informações que melhor serviam para dar uma “confirmação científica” às suas idéias, ainda que as mesmas fontes contivessem elementos impeditivos destas idéias. Neste sentido ganha significado a observação de Leopoldo Bernucci sobre o aspecto da capacidade do escritor em transformar simples impressões em dados minuciosos e completos, ainda quando pairem dúvidas sobre a veracidade da narrativa. “Com efeito, para o leitor incauto, através da linguagem estonteante e persuasiva de Euclides, a representação da natureza chega a ser tão perfeita e detalhada, a despeito de sua factibilidade, que o que passa a adquirir importância parece já não ser propriamente o que se narra mas como se narra” (Bernucci, 1995, p.107). É o caso da contemplação de um mar cretáceo extinto na região de Monte Santo, que deveria ser inviabilizada pelos estudos de Hartt e Derby. Hartt acreditava, baseado nas evidência dos fosseis, que a maior parte da série cretácea da Bahia foi formada pela acumulação dentro de uma bacia fechada de água doce (Hartt, 1870/1941, p.411 e 596). A mesma opinião tinha Derby sobre a existência em redor da Bahia de Todos os Santos de depósitos pertencentes à idade cretácea, numa extensão muito maior do que a atual, que corresponderia a uma “antiga baia ou antes laguna, porque os depósitos converteram-se em grande parte, senão totalmente, em água doce” (Derby, 1878, p.135). Como me parece evidente que Euclides da Cunha conhecia os trabalhos de Hartt e Derby citados anteriormente, é correto afirmar que a sua escolha tinha a finalidade específica de validar, pelo ponto de vista da ciência, uma “profecia retrospectiva” que se diferenciaria da profecia de um sertão que um dia seria praia, apenas pelo sentido da seta do tempo.
“O Homem” e “A Luta” Após a narrativa da natureza, contida em “A Terra”, volta-se Euclides da Cunha para a análise do homem que resultaria daquela. O tema central da segunda parte de Os sertões, “O Homem”, é a formação antropológica do brasileiro, resultante da miscigenação de três raças. A abordagem de “O Homem” não é essencialmente diferente do que foi visto para “A Terra”. Num primeiro momento são apresentados os interlocutores, cientistas vários que trataram em algum momento da questão racial. Tem início então a apresentação, partindo de um esquema mais geral, dos elementos formadores das etnias, passando-se para os produtos da mestiçagem e, reduzindo a mira, aparece um objeto específico do estudo, o sertanejo, e a trajetória pessoal do personagem em trono do qual giram os sucessos passados nos sertões baianos. Vários retornos são feitos à questão climática e à “urdidura geológica da terra”, para que finalmente se possa tomar conhecimento do sertanejo como “perfeita tradução moral dos agentes físicos de sua terra”. “É inconstante como ela, é natural que o seja. Viver é adaptar-se. Ela o adaptou à sua imagem: bárbaro, impetuoso, abrupto...” (Cunha, 1902/1985, p.183-184). A antropomorfização da natureza, que, desde a primeira parte do livro, parece dotada de vontade e sentimento, e a associação natureza-sertanejo aparecem constantemente no texto euclidiano. A natureza é sempre uma aliada dos sertanejos, defendendo-os e amparando-os, e um inimigo dos soldados, que se apavoram diante do desconhecido. A natureza chega mesmo a participar da luta, como no caso das caatingas que “armam-se para o combate; agridem. Trançam-se, impenetráveis, ante o forasteiro, mas abrem-se em trilhas multivias, para o matuto que ali nasceu e cresceu” (Cunha, 1902/1985, p.277). A participação direta do meio físico nos combates é que possibilita em certos momentos que os sertanejos superem as forças regulares do exército, invertendo a esperada supremacia destes, que, embora mais possantes, se tornam a “fraqueza do governo”. Então “a luta é desigual. A força militar decai a um plano inferior. Batem-na o homem e a terra. E quando o sertão estua nos bochornos dos estios longos não é difícil prever a quem cabe a vitória (...). A natureza toda protege o sertanejo. Talha-o como Anteu indomável. É um titã bronzeado fazendo vacilar a marcha dos exércitos” (Cunha, 1902/1985, p.281). Outras vezes a natureza não apenas combate, mas, ao mesmo tempo, fornece a munição que necessitavam os sertanejos. Estes, às vezes, deixavam que agisse, quase exclusiva a sua arma formidável - a terra, que ainda lhe oferecia “blocos esparsos ou arrumados em pilhas vacilantes prestes a desencadear o potencial de quedas violentas, pelos declives”, ou lhe facilitava o carvão, o salitre para o explosivo e lascas de pedras e ossos para substituir o chumbo, com o que não haveria de faltar a carga para a boca larga dos bacamartes (Cunha, 1902/1985, p.311 e 332-333). Mas, acima de tudo, a natureza toda era a proteção do sertanejo, sob a qual o jagunço torna-se um guerrilheiro intangível. “As caatingas não o escondem apenas, amparam-no” (Cunha, 1902/1985, p.278). No campo oposto encontravam-se os soldados, que desconheciam o espaço do teatro da luta e viam-se em pânico diante de um meio que lhes era hostil e de um oponente que lhes aparecia cada vez mais como ser fantástico. Os componentes das forças militares mostravam-se amedrontados diante do desconhecido da terra que nunca tinham visto. “Antes do sertanejo é o próprio sertão que assusta os soldados” (Cunha, 1902/1985, p.292).
As metáforas O encadeamento das partes integrantes de Os sertões faz com que “A Terra” possa ser lida como uma espécie de índice narrativo dos capítulos seguintes. Walnice Galvão (1994, p.626) lembra que os capítulos da luta, “deflagram retroativamente as duas partes inicias, onde se encontram sistemas de metáforas que prefiguram aquilo que vai ser episódio de crônica da guerra”. Vem da geologia algumas das mais expressivas representações metafóricas do livro. A primeira aparição de Antônio Conselheiro em Os sertões se dá através da sua associação a uma “anticlinal extraordinária” “sublevada das camadas mais profundas da nossa estratificação étnica”. Afirmando a correção da imagem, Euclides da Cunha equipara o trabalho de um geólogo para traçar o perfil de uma montanha antiga a partir dos indícios e evidências registrados nas rochas, ao que desenvolve o historiador ao investigar na sociedade os traços que determinaram a existência do Conselheiro (Cunha, 1902/1985, p.206). A anticlinal, uma dobra com a convexidade voltada para cima e os flancos para baixo, é um resultado de forças tectônicas compressivas sobre as rochas. Antônio Conselheiro, como a dobra, teria se originado das forças internas à sociedade sertaneja, dela se destacando apenas em função do rebaixamento do meio que o cercava, e se destinou à história como poderia ter seguido para o hospício. Nas primeiras páginas de “A Terra”, Euclides da Cunha fala de camadas primitivas que desaparecem sotopostas a camadas mais modernas (Cunha, 1902/1985, p.93). Quase trezentas páginas adiante, o conceito geológico serve para representar Canudos, que aparece como um afloramento do passado, registro das falhas da nossa evolução. “Só sugeria um conceito e é que assim como os estratos geológicos não raro se perturbam, invertidos, sotopondo-se uma formação moderna a uma formação antiga, a estratificação moral dos povos por sua vez também se embaralha, e se inverte, e ondula riçada de sinclinais abruptas, estalando em faults, por onde rompem velhos estádios há muito percorridos” (Cunha, 1902/1985, p.374-375). Cinco anos após o lançamento de Os sertões, numa conferência para os estudantes do Centro “XI de Agosto”, no Rio de Janeiro, Euclides da Cunha voltaria a se utilizar de imagens geológicas para tentar definir o que acontecera no interior da Bahia. Para o escritor, “a luta de 1897, nos sertões baianos, a despeito de sua data recente, foi um refluxo do passado; o choque da nossa pré-história e da nossa modernidade; uma sociedade a abrir-se nas linhas de menor resistência, e mostrando, em plena luz, as suas camadas profundas, irrompendo devastadoramente, a exemplo de massas candentes de diabásio que irrompem e se derramam por vezes sobre os terrenos modernos, extinguindo a vida e incinerando os primores da flora exuberante” (Cunha, 1907/1966, p.425). É interessante observar que ao se referir ao interior do país o escritor faz a opção de se utilizar de processos tectônicos causadores de deformações que afetam os níveis profundos da crosta terrestre, e que envolvem a propagação de forças internas através do substrato rochoso e sobre o qual elas se levantam. O interior do país assume assim as feições de interior da própria terra. Uma das representações imagéticas utilizando referenciais geológicos identifica o sertanejo como sendo a “rocha viva da nossa raça” (Cunha, 1902/1985, p.559). e foi contestada por um crítico de primeira hora5, por considerar que esta caracterização entrava em contradição com uma afirmação anterior de Euclides da Cunha sobre a inexistência de unidade racial brasileira. A resposta de Euclides da Cunha faz-se através de uma cuidadosa construção metafórica envolvendo o granito: “Rocha viva... A locução sugere-me um símile eloqüente. De fato, a nossa formação como a do granito surge de três elementos principais6. Entretanto quem ascende por um cerro granítico encontra os mais diversos elementos: aqui a argila pura, do feldspato decomposto, variamente colorida; além a mica fracionada, rebrilhando escassamente sobre o chão; adiante a arena friável, do quartzo triturado; mais longe o bloco moutonné, de aparência errática; e por toda a banda a mistura desses mesmos elementos com a adição de outros, adventícios, formando o incaracterístico solo arável, altamente complexo. Ao fundo, porém, removida a camada superficial, está o núcleo compacto e rijo da pedra. Os elementos esparsos, em cima, nas mais diversas misturas, porque o solo exposto guarda até os materiais estranhos trazidos pelos ventos, ali estão, embaixo, fixos numa dosagem segura, e resistentes, e íntegros. Assim, à medida que aprofunda, o observador se aproxima da matriz de todo definida do local. Ora o nosso caso é idêntico - desde que sigamos das cidades do litoral para os vilarejos do sertão. A princípio uma dispersão estonteadora de atributos, que vão de todas as nuances da cor a todos os aspectos do caráter: Não há distinguir-se o brasileiro no intricado misto de brancos, negros e mulatos de todos os sangues e de todos os matizes. Estamos à superfície da nossa gens, ou melhor, seguindo à letra a comparação de há pouco, calcamos o húmus indefinido da nossa raça. Mas entranhando-nos na terra vemos os primeiros grupos fixos - o caipira no sul, e o tabaréu, ao norte - onde já se tornam raros o branco, o negro e o índio puros. A mestiçagem generalizada produz, entretanto, ainda todas as variedades das dosagens díspares dos cruzamentos. Mas à medida que prosseguimos estas últimas se atenuam. Vai-se notando maior uniformidade de caracteres físicos e morais. Por fim a rocha viva - o sertanejo” (Cunha, 1902/1985, p.580-581).
Mas a mais completa metáfora envolvendo o sertanejo e a rocha talvez tenha sido obtida sem esta intencionalidade quando, ao retornar dos sertões da Bahia para São Paulo, o escritor trazia consigo, dentre outras coisas, uma criança , o “jaguncinho de Euclides”7, e um saco contendo amostras de rochas e sedimentos8. Estava ali representada a associação natureza - homem, tão marcante na narrativa euclidiana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Muito se tem escrito sobre o ambiente favorável que Euclides da Cunha encontrou em São José do Rio Pardo, e que teria sido de muita importância para a elaboração de Os sertões. Naquela cidade o escritor encontrou amigos que muito o ajudaram e estimularam durante a produção do livro, destacando-se alguns deles, como Francisco Escobar, que o teria ajudado em pesquisas bibliográficas, providenciado para que não faltassem os livros que necessitasse e até mesmo traduzido trechos de latim de livros como a Flora Brasiliense. Parece-me importante lembrar que um ambiente favorável e amigos dispostos a colaborar também foram encontrados na capital paulista. A amizade com Teodoro Sampaio e Orville Derby, dentre outros, garantiu a Euclides da Cunha substancial colaboração nos estudos e até mesmo redação do livro. É admitido por seus biógrafos, e confirmado pelo seu inventário, que Euclides da Cunha não possuía uma biblioteca das mais amplas, seja devido aos recursos financeiros limitados, ou porque as constantes mudanças de cidades o impediam de juntar consigo um grande número de livros. Na cidade de São Paulo esta limitação seria relativizada pela solidariedade dos amigos, que eram também autores de trabalhos por ele consultados, e também por que ali o escritor dispunha de acervos como o do Instituto Histórico e Geográfico e até mesmo da Comissão Geográfica e Geológica, onde poderia encontrar parte dos trabalhos que necessitasse para os seus estudos. O prof. José Calasans anotou, num dos seus muitos esboços de estudos9, que “não estaria longe da verdade quem disser que Os sertões é um livro de equipe. Uma obra de muitos colaboradores. Livro que Euclides fez questão de ler para vários amigos”. No que diz respeito ao conteúdo geológico, acredito que a afirmativa encontra terreno fértil. Sendo um livro impar na cultura brasileira, O sertões não pode sequer ser confundido com uma descrição da natureza e da luta do interior da Bahia, que poderia ser escrito por qualquer dos seus colaboradores, em qualquer área, mas o esforço de construção do livro envolveu Euclides da Cunha em estudos e leituras que, sem as suas relações com autores e obras aqui apresentados, poderiam se tornar um obstáculo da importância que ele julgou ter o exército encontrado diante da natureza sertaneja.
Notas 1 As reportagens enviadas da Bahia por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S. Paulo foram publicadas na forma de livro em 1939, pela Editora José Olímpio, com o titulo de Canudos (diário de uma expedição), e posteriormente incluídas em 1966 na Obra Completa, organizada por Afrânio Peixoto e publicada pela Editora José Aguillar. 2 Publicada em 1975, pela Editora Cultriz, com o título de Caderneta de Campo e introdução, notas e comentários de Olímpio de Souza Andrade, esta caderneta de anotações de Euclides da Cunha, escritas durante a sua permanência na Bahia, contém dados climáticos, esboços do relevo da região de Canudos, croquis, anotações para reportagens, sumário de um possível livro etc., e é considerado por Olímpio Andrade como fonte primária de Os sertões. 3 Em março de 1897, Albert Loefgren, Orville Derby e Teodoro Sampaio indicaram Euclides para o quadro de sócios do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. 4 Os nomes do Príncipe de Neuwied, Spix e Martius, Ayres de Casal, Gardner e Burton podem ser relacionados com a fase de implantação das ciências no Brasil que Dantes (1988: 265-275) considera marcada pelo iluminismo e pela tradição naturalista, que teria prevalecido até meados do século XIX. Halfeld, Hartt, Allen, Bulhões, Rathbun, Derby, Wells e Teodoro Sampaio, por sua vez, estariam relacionados à fase de introdução das ciências experimentais, que teria atravessado a segunda metade do século XIX e se estenderia até por volta da década de 20 do presente século. 5 Moreira Guimarães, ex-colega de Euclides da Cunha na Escola Militar. Crítica publicada inicialmente no jornal Correio da Manhã de 3 de fevereiro de 1903 e incorporada aos Juízos Críticos, publicados em 1904 pela editora Laemmert, RJ. 6 Os três elementos da “nossa formação”, a que se refere Euclides da Cunha seriam o indígena, o africano e o europeu, enquanto os três elementos do granito seriam o feldspato, a mica e o quartzo. Em algumas variedades de rochas graníticas seriam possível imaginar que alusão de Euclides colocaria numa relação direta os elementos étnicos e os elementos do granito na seguinte ordem de correspondência: indígena a feldspato (ortoclásio); africano a mica (biotita); europeu a quartzo. 7 Euclides da Cunha faz menção na sua Caderneta de Campo (1897/1975:55) ao “jaguncinho que me foi dado pelo general continua doente e talvez não resista à viagem para Monte Santo”. Tornou-se um comportamento comum, depois da guerra, a guarda de crianças órfãs que teriam sido levadas consigo por participantes dos acontecimentos. O “jaguncinho” que foi levado por Euclides da Cunha para São Paulo foi entregue aos cuidados de uma família paulista, levou o nome de Ludugero Prestes e formou-se professor (Calasans, 1980). 8 Olímpio de Souza Andrade (1975:XXII) faz referência a um “saco... de pedras, destinadas a exame cuidadoso” que teria levado por Euclides da Cunha do sertão para São Paulo. 9 A anotação encontra-se no arquivo do Núcleo Sertão, do Centro de Estudos Baianos da UFBA. O manuscrito é intitulado “Teodoro Sampaio”, sem qualquer referência bibliográfica, identificado como Doc. C.1, 7 fls.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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