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CRONOLOGIA DE EUCLIDES*
1866
Nascimento, em 20 de janeiro, na "Fazenda Saudade", em Santa Rita do Rio Negro,
Município de Cantagalo. Província
do Rio de Janeiro. Filho de Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha e Eudóxia
Moreira da Cunha. Batizado a 24 de novembro.
1869
Perde a mãe, vítima da tuberculose, sendo enterrada no Arraial
de Conceição da Ponte Nova. Órfão aos três
anos, ficou marcado por profundo sentimento de tristeza.
1870
Crescendo em companhia da irmã Adélia, transfere-se para Teresópolis,
passando a residir com a família dos tios Rosinda e Urbano Gouveia. Novo
encontro com a orfandade, sendo que desta vez, morre-lhe a tia Rosinda, que
vinha desempenhando o papel de uma segunda mãe.
1871-73
Ainda em companhia de Adélia, passa a morar em São Fidélis.
Entregue aos cuidados de uma segunda tia, Laura Garcez, esposa do coronel Magalhães
Garcez, de grande prestígio na região fluminense em desenvolvimento.
Período da "Fazenda São Joaquim", cercado de certo bucolismo.
Menino telúrico, discursava, falando sozinho, na porteira do curral,
dirigindo-se aos bois.
1874
Início da vida escolar. Matriculado no "Colégio Caldeira", famoso
estabelecimento de ensino, de S. Fidélis, sob a direção
do professor Francisco José Caldeira, português da Ilha da Madeira,
pedagogo de idéias revolucionárias, que exerceu boa influência
no seu espírito, animando-o nos seus desejos libertários. Adquiriu,
nesse colégio, boa base cultural.
1876
Ainda em S. Fidélis, estudando. Menino tristonho, de acentuada natureza
introspectiva, crescia marcado pela orfandade materna.
1877-78
Período um tanto obscuro em sua vida; segundo dados familiares passou
a viver em companhia dos avós maternos, na cidade do Salvador, Bahia,
sendo certo que estudou no "Colégio Carneiro Ribeiro".
1879
Regresso ao Rio. Morando na Corte, em casa do tio paterno, Antônio Pimenta
da Cunha, numa chácara no Largo da Carioca, foi matriculado no Colégio
Anglo-Americano, prestando exame de Português, a 25 de novembro.
1880-82
Adolescente de sensibilidade instável, mudava constantemente de colégios.
Depois do Anglo-Americano, passou, em menos de dois anos, pelos Colégios
"Vitório da Costa" e "Menezes Vieira".
1883-84
Estuda no "Colégio Aquino", onde conhece Benjamin Constant, grande republicano,
seu professor. Com sete colegas, fundou o jornal "O Democrata", no qual, no
número sete, de 4 de abril de 1884, publica o seu primeiro artigo.
1884-85
Período de exames, com matrícula feita na Escola Politécnica.
Já vislumbrava diante de si a carreira militar, bastante vantajosa na
época. Começa a escrever versos. Caderno manuscrito de "As Ondas".
1886
Em 20 de fevereiro, entra na Escola Militar da Praia Vermelha, cadete de número
308. Continua fazendo poesia, com versos de inspiração filosófica,
metafísica, cantando a liberdade universal, a tristeza do amor e outros
temas das escolas poéticas da época.
1887
Cursando a Escola Militar, atravessa por crises íntimas que registra
em páginas do diário e da sua poesia desigual. Colaborações
na "Revista Acadêmica".
1888
Em 4 de novembro, ocorre o célebre episódio do desfile da Escola
Militar da Praia Vermelha, em homenagem ao então Ministro da Guerra,
o Conselheiro Tomás Coelho, quando Euclides, nervoso, sai da fila e tenta
quebrar aos seus pés a espada, em sinal de protesto.
É preso e recolhido à enfermaria. Em 14 de dezembro, em conseqüência
desse ato, é excluído do Exército. Parte, logo em seguida,
para São Paulo, capital, 20 de dezembro. Com o título de "A Pátria
e a dinastia", a 22 de dezembro, com as iniciais E.C., publica o seu primeiro
artigo na "Província de São Paulo" (atual "O Estado de São
Paulo"). Inicia, a 29 de dezembro, colaboração permanente, no
mesmo jornal, sob pseudônimo de Proudhon, na seção "Questões
Sociais". Euclides foi muito bem recebido em São Paulo por políticos
e jornalistas famosos, que faziam da capital paulista "Quartel General" das
lutas republicanas.
1889
Regressa a 28 de janeiro, ao Rio. Em 6 e 7 de maio presta exame, entrando na
Escola Politécnica, quatro dias após a proclamação
da República, ocorrida a quinze de novembro, é chamado a fazer
a sua reversão ao Exército, sendo a 21 do mesmo mês promovido
a Alferes-aluno. Encerramento das colaborações na "Província
de S. Paulo", e início na "Gazeta de Notícias" do Rio.
1890
Em 8 de janeiro matricula-se na Escola Superior de Guerra e completa a 11 de
fevereiro seu curso de Artilharia. Em 14 de abril é promovido a Segundo
Tenente. Em 10 de setembro casa-se no civil e religioso com Ana Ribeiro, filha
do General Solon Ribeiro, figura de destaque nos quadros da proclamação
da República.
1891
Faz os cursos de Estado Maior e Engenharia Militar. Vai para a Escola Superior
de Guerra.
1892
Em 9 de janeiro é promovido a Primeiro Tenente. Como Engenheiro começa
a praticar na Estrada de Ferro Central do Brasil, trecho de S. Paulo a Caçapava.
Bacharel em Matemática, Ciências Físicas e Naturais. Inicia
sua colaboração no "Estado de S. Paulo".
1893
Em 16 de agosto é nomeado para a Estrada de Ferro Central do Brasil,
como Engenheiro. Cuida das obras de fortificação das trincheiras
de Saúde, no Morro da Conceição. E, em dezembro, passa
a figurar na Diretoria Geral de Obras Militares.
1894
Publica ruidoso protesto na "Gazeta de Notícias", réplica ao Senador
João Cordeiro. Designado a 28 de março para servir na cidade mineira
de Campanha, onde fixa residência em abril. O período de Campanha
é marcado por estudos de obras sociais, construções de
prédios e inaugurações festivas. Em 11 de novembro, com
a chegada da primeira locomotiva à estação de Campanha,
faz eloqüente discurso de saudação aos operários da
Estrada de Ferro.
1895
Ainda em Campanha, recebe a visita do pai, em fevereiro. Deixa a senhorial cidade
mineira indo para Belém do Descalvado, em S. Paulo. Em junho, 28, é agregado ao corpo do Estado Maior.
1896
Deixa em treze de julho o Exército, sendo nomeado, em 18 de setembro
Engenheiro-ajudante de primeira classe da Superintendência de Obras Públicas,
do Estado de São Paulo, onde prestará relevantes serviços,
em diversos distritos, não só abrindo estradas como construindo
pontes, edifícios públicos, restaurando obras, demarcando limites
etc.
1897
Ano-marco, na vida de Euclides, que, a convite de Júlio Mesquita, segue
como correspondente do jornal "Estado de São Paulo", para os sertões
da Bahia (adido à comitiva militar do Ministro da Guerra, Marechal Bittencourt),
onde, dentro do fogo de Canudos, iria inspirar-se para escrever, cinco anos
depois, Os Sertões. Antes, em 14 de março, publicara no
"Estado de S. Paulo", o primeiro artigo, a respeito da guerra de Canudos, "A
Nossa Vendéia". O segundo, com novas variações sobre o
dramático tema, sairia no mesmo jornal, em 17 de julho. Em 4 de agosto,
a bordo do "Espírito Santo", partia Euclides para Salvador.
Passa vários dias na capital baiana, observando as tropas que chegam
e partem para os sertões. Inicia nesse mês de agosto a sua colaboração
como correspondente do "Estado de S. Paulo", enviando artigos e comentários.
Em 1º de setembro chega em Queimadas, estação ferroviária
e "boca de entrada" para os sertões de Canudos. A 4 de setembro deixa
Queimadas, passando por Tanquinho, Cansanção, Quirinquinquá,
chegando a Monte Santo em 7. No dia seguinte, sobe o calvário de Monte
Santo, deixando em seu "diário de guerra" notável descrição.
Parte para Canudos, aí chegando a 16 de setembro. Com o material colhido,
as observações diretas feitas sobre os tipos e os episódios
da Campanha, principalmente, referentes ao cerco final, escreve os apontamentos
iniciais de Os Sertões. Terminada a luta, regressa a Salvador, via Monte-Santo,
onde descansa uns dias. Com os nervos abalados por tudo o que vira e descrevera,
sensivelmente modificado como homem e como republicano, regressa de Salvador
ao Rio, em 17 de outubro. Em dezembro descansa na fazenda do pai, em Belém
do Descalvado, interior de São Paulo.
1898
Estampa no "Estado de S. Paulo", a 19 de janeiro, com o título de "Excerto
de um livro inédito", as primeiras amostras de Os Sertões.
Realiza em 5 de fevereiro, no Instituto Histórico de S. Paulo, uma conferência
sobre "Climatologia da Bahia". Parte para São
José do Rio Pardo, onde viverá os melhores anos de sua vida,
residindo num sobrado, da Rua 13 de maio (atualmente "Casa Euclidiana"). Começa
a reconstruir a célebre ponte sobre o Rio Pardo ao mesmo tempo em que
começa a escrever em forma definitiva Os Sertões.
1899
Em São José do Rio Pardo, trabalhando na reconstrução
da ponte. Estuda muito e continua elaborando Os Sertões. Cercado
por bons amigos, entre os quais se destaca Francisco Escobar, discute capítulos
e teorias do seu livro.
1900
Termina em maio Os Sertões cuja cópia manuscrita é
confiada ao calígrafo Augusto. Continua em São José do
Rio Pardo.
1901
Em 15 de janeiro é promovido a Chefe de Distrito de Obras. Aos 18 de
maio é inaugurada a ponte sobre o Rio Pardo. Passa o mês de novembro
em S. Carlos do Pinhal. Em dezembro, vai a Guaratinguetá, transferido
para o Segundo Distrito de Obras.
1902
Fixa residência em Lorena. Em maio, recebe as primeiras páginas
impressas de Os Sertões. E nos primeiros dias de dezembro ocorre
o lançamento do livro, no Rio, pela Livraria Laemmert, constituindo retumbante
êxito de crítica e de venda. A primeira edição esgota-se
em poucas semanas. O livro é saudado com incomum entusiasmo pelos grandes
críticos da época, destacando-se os rodapés de Araripe
Junior, José Veríssimo e Sílvio Romero, que disse ter Euclides
deitado obscuro e acordado famoso.
1903
Em 21 de setembro é eleito para a cadeira n.° 7 da Academia Brasileira
de Letras. E a 20 de novembro, toma posse no Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro. Sempre inquieto, muito temperamental, demite-se da Superintendência
de Obras Públicas de São Paulo. Mesmo glorioso, consagrado como
um dos nossos maiores escritores vivos, Euclides, que não se adaptava
à Capital Federal, procura novas viagens pelo interior brasileiro, por
ele muito amado, estudado e, sobretudo, denunciado no seu secular abandono.
1904
Em 15 de janeiro, é nomeado engenheiro-fiscal das Obras de saneamento
de Santos. Instala-se em Guarujá, onde residirá até setembro.
Devido a incidente com o chefe da comissão, exonera-se do cargo em 24
de abril. Inicia sua fase no Itamarati, sendo nomeado, em 9 de agosto, chefe
da comissão do Alto Purus Em dezembro, 13, parte para Manaus, aí chegando no fim do ano.
1905
Vive em Manaus. Feito chefe da expedição de reconhecimento do
Alto Purus, parte para as nascentes do rio em 5 de abril. Dedicado ao extremo,
tudo levando a sério, trabalhando mais do que podia, contrai bravo impaludismo.
Em 15 de maio chega à boca do Acre e, dez dias depois, a foz do Chandless.
Ocorre a 3 de julho o banquete de Curanjá, quando, em episódio
célebre, discursa lamentando a ausência da bandeira nacional no
local. Doente, regressa a Manaus em 23 de outubro, apresentando, em 16 de dezembro
a ata de encerramento dos trabalhos das comissões.
1906
Regressa ao Rio, tornando-se adido ao gabinete do Barão do Rio Branco,
seu grande amigo e admirador. Aparece, em junho, em publicação
oficial, seu Relatório do Alto Purus. E em 18 de dezembro toma posse
na cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras, sendo saudado por Sílvio
Romero com um discurso revolucionário, de acentuada preocupação
nacionalista.
1907
Com 40 anos feitos, atravessa a fase de neurastenia, na Capital Federal, onde
não se adapta. Tratando-se dos nervos e do impaludismo acreano, desabafa-se,
através de cartas dramáticas, com os inúmeros amigos feitos
no Brasil inteiro. Surge-lhe um começo de tuberculose. Não querendo
ficar apenas como o célebre escritor de Os Sertões, publica,
por uma editora de Lisboa, Contrastes e Confrontos, reunião de
artigos e estudos. Nesse mesmo ano, em setembro, publica pela Livraria Francisco
Alves Peru versus Bolívia. Em 2 de dezembro, pronuncia no "Centro
Onze de Agosto", em S. Paulo, sua célebre conferência Castro
Alves e Seu Tempo.
1908
Fase de intensos trabalhos no Itamarati. Incidente com Zeballos, diplomata argentino.
Residência em Copacabana. Conclui À Margem da História,
importante livro de estudos brasileiros, cuja publicação ocorreu
depois da morte do autor, pela Livraria Chardron, de Portugal.
1909
Provas, escrita e oral, do concurso de Lógica, do Pedro Segundo, na época
Colégio Nacional, no qual tirou o segundo lugar, sendo nomeado professor
a 14 de julho, dando em 21 do mesmo mês a primeira aula. Em 13 de agosto,
a última aula. Em 15 de agosto, numa manhã chuvosa, aos 43 anos
de idade, desafiando o destino e o conquistador da sua esposa, armado, chega
ao subúrbio carioca da Piedade, onde, na Estrada Real de Santa Cruz,
214, numa troca de tiros com o cadete Dilermando de Assis, tomba assassinado,
no jardim.
A tragédia abalou o Brasil inteiro. Perdia a literatura nacional o seu
gênio mais expressivamente brasileiro e telúrico.
* Extraída de Reis, Irene Monteiro. Bibliografia de Euclides da Cunha.
Rio de Janeiro, MEC/INL, 1971. Baseada em Dantas, Paulo. "Cronologia de Euclides".
São Paulo, O Estado de S. Paulo, 22/01/66
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