São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002



Mario Cesar Carvalho
da Reportagem Local

Ao morrer sob o pára-choque traseiro de um caminhão, em 14 de agosto deste ano, Roberto Ventura deixou na memória do seu computador um texto chamado "Euclides da Cunha -Uma Biografia". Tem 182 páginas e fora modificado pela última vez em 10 de novembro de 2001.
Não é o livro que Roberto publicaria como resultado dos dez anos de pesquisa sobre a vida de Euclides. O tom do texto já não lhe agradava, a ordem cronológica da narrativa lhe parecia imprópria para uma vida repleta de lacunas como a de Euclides, e faltava ênfase nas interpretações que fazia de "Os Sertões", de Canudos e de Antônio Conselheiro.
É claro que Roberto Ventura (1957-2002) tinha suas razões, mas o texto renegado é tão surpreendente que Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, decidiu publicá-lo ao ler as 50 primeiras páginas.
O texto, do qual o Mais! publica um trecho com exclusividade, começa como uma biografia convencional, mas com um grau de síntese e precisão que só parece possível a germanófilos e seus cultos à essência, como era o caso de Roberto. Ao narrar o ápice da vida de Euclides, com a publicação de "Os Sertões" em 1902, Roberto deixa algumas pistas breves de temas que acabaram se tornando suas pequenas obsessões: o paralelismo entre as vidas de Euclides e de Antônio Conselheiro (daí o seu interesse pelo Plutarco de "Vidas Paralelas") e a idéia de que o Conselheiro que passou para a história como um fanático religioso não passa de uma criação -e uma projeção- de Euclides.
É um exercício inútil de futurologia do passado especular se a nova versão da biografia iria tomar um desses rumos. Roberto morreu. Mas o Euclides que ele deixou no copião do que seria a sua biografia revela um escritor mais perturbado e menos majestoso do que a imagem que outros biógrafos pintaram dele. Era o Euclides Conselheiro, um duplo que muda a história de Euclides, do Conselheiro e de Canudos.


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