São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002


POR NELSON PEREIRA DOS SANTOS

Li "Os Sertões" acho que no último ano do curso clássico do Colégio Estadual Presidente Roosevelt. Apesar das recomendações em contrário, iniciei a leitura por onde o livro começa, "A Terra", munido de dicionário e enciclopédia. Com isso, ganharia o direito de fruir o melhor pedaço, o das cenas de guerra, mais próximo da imaginação de quem não perdia um filme de ação disponível nas telas da cidade.
Mais tarde, aluno da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, participei uma vez de um grupo de estudos de Euclides da Cunha, que se reunia todos os anos em São José do Rio Pardo (SP), em romaria à cabana onde o engenheiro genial teria redigido a obra-prima. Era, porém, um encontro de estudantes mais interessados em assimilar a retórica do autor em exercícios de oratória do que em compreender a sua visão trágica do Brasil.
O terceiro encontro com o livro se deu quando conheci na Bahia dois apaixonados conhecedores da obra de Euclides da Cunha, o jovem Glauber Rocha e o pintor Calazans Neto. Na cabeça de Glauber fermentava o roteiro de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", que fez de "Os Sertões" um dos fundamentos do cinema brasileiro moderno.


Nelson Pereira dos Santos é cineasta, diretor de "Rio 40 Graus" (1955), "Vidas Secas" (1963), "Memórias do Cárcere" (1984), "A Terceira Margem do Rio" (1994), entre outros.


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