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POR NELSON PEREIRA DOS SANTOS
Li "Os Sertões" acho que no último ano do curso clássico
do Colégio Estadual Presidente Roosevelt. Apesar das recomendações
em contrário, iniciei a leitura por onde o livro começa,
"A Terra", munido de dicionário e enciclopédia. Com isso,
ganharia o direito de fruir o melhor pedaço, o das cenas
de guerra, mais próximo da imaginação de quem não perdia
um filme de ação disponível nas telas da cidade.
Mais tarde, aluno da Faculdade de Direito do Largo de São
Francisco, participei uma vez de um grupo de estudos de
Euclides da Cunha, que se reunia todos os anos em São José
do Rio Pardo (SP), em romaria à cabana onde o engenheiro
genial teria redigido a obra-prima. Era, porém, um encontro
de estudantes mais interessados em assimilar a retórica
do autor em exercícios de oratória do que em compreender
a sua visão trágica do Brasil.
O terceiro encontro com o livro se deu quando conheci na
Bahia dois apaixonados conhecedores da obra de Euclides
da Cunha, o jovem Glauber Rocha e o pintor Calazans Neto.
Na cabeça de Glauber fermentava o roteiro de "Deus e o Diabo
na Terra do Sol", que fez de "Os Sertões" um dos fundamentos
do cinema brasileiro moderno.
Nelson Pereira dos Santos é cineasta, diretor de "Rio
40 Graus" (1955), "Vidas Secas" (1963), "Memórias do Cárcere" (1984), "A
Terceira Margem do Rio" (1994), entre outros.
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