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POR SILVIANO SANTIAGO
Cheguei à maioria dos clássicos da literatura nacional e universal
pelas mãos do cinema. "Os Sertões" não fugiu à regra. Em Belo Horizonte,
vivíamos às voltas com o Centro de Estudos Cinematográficos (CEC) e com a
"Revista de Cinema", quando Glauber Rocha nos caiu na cabeça como um
bendengó. Isso nos idos de março de 1957. Nasci em 1936. Saía dos meus 20
anos. Glauber tinha viajado a Minas para conhecer as cidades históricas.
Acabou topando com a gente graças ao Fritz Teixeira de Sales, seu
anfitrião. Foi convidado para uma palestra no CEC. Glauber nos achou
teóricos, formalistas e estrangeirados. Em carta a um amigo baiano
descreveu as andanças belorizontais: "Bebo há quatro dias e estou doente.
Grande turma. Muito veado. Muita gente séria. Muita mulher feia. Muito
concretista. Muita sofisticação. Muita inteligência". Munido de verve e de
espírito de aliciamento, Glauber serviu cangaceiros e conselheiristas na
terra de Juscelino Kubitschek. Espancava, discorria e incitava ao quente
com veneno. Leiam "Os Sertões" e o ciclo da cana-de-açúcar de Lins do
Rego. Deixei de lado os favoritos e fui lê-los. Descobri que "Os Sertões"
não é livro pra ser lido. É pra ser anotado. Na verdade, só o descobri
quando o reli anos mais tarde.
Silviano Santiago é escritor, poeta e crítico de
literatura, autor de, entre outros, "Stella Manhattan" e "Uma Literatura
nos Trópicos" (ambos pela ed. Rocco).
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Nelson Pereira dos Santos
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Sertões" passo a passo
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