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POR MARCO ANTONIO VILLA
Na íntegra, li pela primeira vez "Os Sertões" no México. Era uma edição
em espanhol. Estava desenvolvendo o meu projeto de doutorado sobre as
lutas camponesas no México nos anos 1920-1940, quando resolvi comprar uma
edição que encontrei num sebo. Comecei a ler despretensiosamente. Tinha
tido contato com "Os Sertões" em 1977, mas abandonara a leitura, achando
que o livro era muito chato e pouco revolucionário. Preferi ler "Sobre a
Guerra Popular Prolongada", do companheiro Mao Tse-tung. Dez anos
depois, mudei radicalmente de idéia. O livro foi uma revelação. Abandonei
o projeto de doutorado, para estranheza inicial da minha orientadora
-professora Maria Lígia Coelho Prado-, e resolvi estudar o Brasil do final
do Império e início da República, o cristianismo brasileiro e o Nordeste
sempre rebelde. E esse reencontro com a história do Brasil e com Canudos
ocorreu devido à leitura de "Os Sertões". Desde então é uma relação de
amor e ódio. Vez ou outra fico irritado com determinadas explicações
euclidianas. Mas o mau humor passa quando a leitura segue e a cada página
volto a ficar encantando: é uma espécie de feitiço.
Marco Antonio Villa é professor de história no
departamento de ciências sociais da Universidade Federal de São Carlos
(SP) e organizador de "Canudos, História em Versos" (Imprensa Oficial de
SP/Edufscar/ed. Hedra).
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