São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002



POR MARCO ANTONIO VILLA

Na íntegra, li pela primeira vez "Os Sertões" no México. Era uma edição em espanhol. Estava desenvolvendo o meu projeto de doutorado sobre as lutas camponesas no México nos anos 1920-1940, quando resolvi comprar uma edição que encontrei num sebo. Comecei a ler despretensiosamente. Tinha tido contato com "Os Sertões" em 1977, mas abandonara a leitura, achando que o livro era muito chato e pouco revolucionário. Preferi ler "Sobre a Guerra Popular Prolongada", do companheiro Mao Tse-tung.
Dez anos depois, mudei radicalmente de idéia. O livro foi uma revelação. Abandonei o projeto de doutorado, para estranheza inicial da minha orientadora -professora Maria Lígia Coelho Prado-, e resolvi estudar o Brasil do final do Império e início da República, o cristianismo brasileiro e o Nordeste sempre rebelde. E esse reencontro com a história do Brasil e com Canudos ocorreu devido à leitura de "Os Sertões". Desde então é uma relação de amor e ódio. Vez ou outra fico irritado com determinadas explicações euclidianas. Mas o mau humor passa quando a leitura segue e a cada página volto a ficar encantando: é uma espécie de feitiço.


Marco Antonio Villa é professor de história no departamento de ciências sociais da Universidade Federal de São Carlos (SP) e organizador de "Canudos, História em Versos" (Imprensa Oficial de SP/Edufscar/ed. Hedra).


Texto Anterior: Por José Celso Martinez Corrêa
Próximo Texto: Por Eduardo Lourenço


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.

O Berrante Online é uma criação coletiva do Coletivo Euclidiano. Contribuições são bem-vindas!

 

 

Free Web Hosting